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“O pensamento é o ensaio da ação.”
(Sigmund Freud)

Cartas de princípio

Fundamos a ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE CURITIBA para abrigar os princípios que consideramos relevantes para que uma instituição possa dizer-se, a partir dos ensinamentos de Freud e de Lacan, de transmissão e de formação em psicanálise, quais sejam:

Uma TRANSMISSÃO de textura tal que permita, a cada um que assume as conseqüências de sua formação, uma elaboração própria dos ensinamentos psicanalíticos. O que se aprende fica, então, subordinado – enquanto astúcias de consciência – às formações do inconsciente, já que nelas se reconhece, muito além do consciente ou inconsciente, o vetor de toda e qualquer eficácia no discurso. Aí está a razão necessária para que cada um faça a sua própria elaboração dos ensinamentos psicanalíticos.

A FORMAÇÃO é entendida, então, como dar lugar à trajetória de cada um, onde o desejo de saber se encaminha para o tripé análise-supervisão-teoria priorizando o viés da transferência, já que é nesse viés que se evidencia a disjunção do saber com a verdade, motor e ponto de inspiração fundamental da produção. Por isso, fica sublinhada a exposição aos pares e a psicanálise de cada um.

O ENSINO é pensado de forma a não dar lugar a exercícios inócuos de mestria, mas para que desperte o desejo do desejo de saber tanto quanto de suportar seu limite; este ensino será viabilizado nos cartéis, grupos de trabalho, grupos textuais e seminários.

A CLÍNICA PSICANALÍTICA será enfocada em discussões clínicas e seminários sobre temas clínicos, dando lugar para refletir, debater e produzir no que diz respeito à prática da psicanálise, bem como debruçar-se sobre as questões específicas da clínica de crianças, de adolescentes, das psicoses e da transdisciplinaridade.

A EXPOSIÇÃO dos trabalhos desenvolvidos no interior da instituição, assim como seu funcionamento, dar-se-á através de boletins periódicos, publicações específicas, debates, seminários abertos à comunidade e jornadas de apresentação de trabalhos.

A PSICANÁLISE EM EXTENSÃO terá lugar tanto no sentido de estabelecer laços com a cultura quanto no de divulgar a psicanálise na pólis. Institucionalizar-se não significa colocar a instituição como um fim e fazer de sua manutenção um objetivo único. Uma instituição idealizada a este ponto inviabiliza o trabalho e a criação instaurando algo como uma religiosidade com ídolos a serem adorados e ideais inatingíveis, o que produz efeito incapacitante sobre seus membros, deixando a singularidade de fora.

Trata-se, enfim, de se institucionalizar para tornar possível o rigor necessário à formação analítica, de se associar para enfrentar melhor a solidão do ato analítico, e para dar conta da responsabilidade de sua prática.

Existe um real em jogo na formação dos analistas, que Lacan recomenda não ocultar e sim fazer face. É necessário que a instituição proponha os horizontes possíveis, pensáveis a partir de princípios que não constituam um fim em si mesmos, existindo flexibilidade na sua administração e possibilidade de sua modificação no funcionamento. Em suma, uma instituição aberta às mudanças, sem pretensão de “estar pronta”, que possa fundar o que Moustapha Safouan denomina de um laço social novo: “para cada um, a análise prossegue: passa-se da própria história à da psicanálise de modo que ela se perpetue, engendrando uma nova geração de psicanalistas”.