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“O pensamento é o ensaio da ação.”
(Sigmund Freud)

Ato psicanalítico /Ato Criativo

Postado por admin em 13/jun/2018 - Sem Comentários

No inicio do cartel sobre o Ato Psicanalítico (seminário 1967-1968- Jacques Lacan), me defrontei com conceitos de Ato Psicanalítico e o Ato Criativo.

No meu percurso acadêmico a Psicanálise sempre esteve ligada a Arte, mesmo porque a conheci ainda na faculdade de Artes Plásticas, apresentada, pelo Professor Mosca de Carvalho, na disciplina de Psicologia. Ele falava de conceitos distantes da minha vivência de até então; como Id, Ego, Superego, Transferência e Sublimação. Enfim ainda
sem saber bem do que se tratava eu ainda assim me encantava, e captava aquilo tudo como uma forma de contado com o Belo.

Mesmo no meu percurso da Psicologia, a Psicanálise de alguma forma não muito clara, me remetia a Arte.

Freud inicia o texto “Unheimlich” 1919 dizendo não entender estética simplesmente como Teoria da Beleza, mas teoria das Qualidades de Sentir.

Querer apreender o Ato Psicanalítico seria tão impossível quanto apreender a Arte e o Belo, contudo podemos percorrê-lo pelas bordas que pespontam o vazio do Ser.

Nos dois casos a expressão Ato (analitico/criativo) admite esta denominação na medida em que promovem movimento, que se encontram para além das palavras, formas e cores. Como disse Ferreira Goulart- (set 2012 Veja) – Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto… – espanto este que muitas vezes nos defrontamos no processo analítico, tanto como analisandos quanto analistas.

Existe uma ação no Sujeito de produzir o que poderíamos explicar como uma tentativa de uma transformação simbólica que o retiraria de um estado de dor sem nome; um ensaio de se livrar ou se confrontar diretamente com o vazio insuportável. Encontra-se na essência deste movimento a demonstração do Real e da falta que subjaz ao fantasma, porém sendo esta ação um ato … falha. Pois todo a Ato é falho pela impossibilidade de dissolver o Real inominável. Ambos nos deixam carentes da palavra final de uma verdade absoluta.

Todavia é justamente porque esta produção jamais dará conta da Verdade, que isso mantém o Sujeito em permanente circulação, impedindoo de calar.

O Ato de Criação poderá criar a ilusão de se promover um lugar de alívio por contornar as bordas do Vazio – sabe-se que a sublimação tem função significante. Todavia como o artista poderá realizar a tradução deste enigma que criou e a re-significação em sua enunciação? Qual o destino da angustia despertada por andar pelas bordas do Vazio que poderia Nada conter? Haveria a possibilidade por meio deste ato de se realizar a travessia
do fantasma sem se traduzir o inconsciente, que como se sabe é estruturado pela linguagem, mas que está para além das representações verbais?
A mim parece que algo desta produção se lança, relança… , mas não se dissolve.

No entanto o Ato Psicanalítico ocorre no jogo do processo analítico, sustentado pelo Analista no manejo da transferência e das resistências do que não se permite representar. Acredito que será neste espaço entre analista/analisando que haverá a possibilidade de acontecer uma retificação de posição subjetiva para o Sujeito, inscrevendo novos significantes e feita por intermédio do jogo da substituição de um significante por outro.

Possibilitando não só a criação e o desenvolvimento dos significantes, como também o surgimento de novos sentidos, que virá contribuir para aprimorar, aprofundar e dar sentido àquilo que no real, é pura opacidade…
Caberá o Ato ao analista na relação com o analisante.

Analista este, que se situa na transferência, não como sujeito do conhecimento, mas como suporte e instrumento de revelação da verdade, pois ao final da análise, o Ato Analítico constitui o suporte da verdade, ainda que não toda, que é conquistada pelo sujeito, cujo desvelamento faz com que a realidade já não seja como era antes.

Hoje posso falar que o Ato Psicanalítico contém atos criativos, porém será na dinâmica do “Bem Dizer” proporcionado pelo contexto analítico que o Objeto a poderá tomar outros rumos que não o engodo da repetição, possibilitando o Sujeito fazer da falta corrosiva, a falta constitutiva do ser.

Voltando ao inicio da minha fala, entendo a Beleza como Arte, que possibilita um momento de suspensão do Sujeito, de contemplação de algo inapreensível e fugaz, contudo pleno de sensações e sentido. Concluo ainda que o Ato Psicanalítico é pura expressão de arte.

Andrea Rôa d’Haese.
Psicanalista;
Especialista em Saúde Mental e Psicanálise,PUC –PR;
Membro da Associação Psicanalitica de Curitiba..

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